quarta-feira, 13 de abril de 2016

Fugindo de Todos os Fogos

Reduziu o galope ao chegar à falésia, ficando-se por um trote transpirado, até terminar num passo lento, a perscrutar os ventos que empurravam o cheiro a maresia misturado com a pestilência da terra queimada.
Via-se privado da verdura dos pastos. Estava só, sem saber por onde caminhar. Para quê o galope, quando o passo lento lhe bastava, sem que desse utilidade aos músculos treinados em escola de luxo? Olhava as aves marinhas assustadas, voando à procura de poiso seguro. Falava com elas em silêncio, por sinais secretos, numa linguagem eterna que só elas entendiam, com a humanidade ausente da borrasca, num exercício de liberdade sem a mediação do homem, resistindo à incómoda penetração do ar que lhe entrava pelas narinas para depois sair filtrado pela manhã pesada de tanto fogo fora de horas, como são todos os fogos.